sexta-feira, 30 de novembro de 2007

A notícia abaixo dá ciência dos planos mirabolantes do atual presidente do Ipea.

A mesma coisa foi patrocinada, no início do governo Lula, pelo então presidente do BNDES, Carlos Lessa.

A idéia é péssima por várias razões. Primeiro, o conteúdo de um programa como o proposto em nada difere do que já é ministrado na Unicamp, na UFRJ e na UFF, para citar apenas três programas que funcionam com verbas públicas. Segundo, o novo curso empregará os colegas e amigos do secretário, além dos ex-alunos deles, o que é, no mínimo, antiético. Terceiro, as idéias defendidas por esses economistas são atrasadas e não encontram respaldo acadêmico nem empírico em qualquer lugar do mundo -- desenvolvido ou em desenvolvimento -- que tenha prosperado nos últimos 30 anos.

Carlos Pio

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OESP

Sexta-Feira, 30 de Novembro de 2007

Ipea quer desenvolvimentismo em curso de pós-graduação

Márcio Pochmann reuniu economistas críticos das atuais políticas monetária e fiscal em seminário em Brasília

Sérgio Gobetti, BRASÍLIA

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As mudanças na cúpula do Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (Ipea) estão empolgando uma velha geração de economistas desenvolvimentistas, que já sonha em retomar a hegemonia que possuía nas universidades até a década de 80. Como parte dessa estratégia, o presidente do Ipea, Márcio Pochmann, realizou ontem um seminário em Brasília com professores de Economia e anunciou o plano de organizar um curso de pós-graduação da própria instituição, reunindo os principais expoentes do pensamento desenvolvimentista do Brasil.

"Estamos há duas décadas contaminados pela lógica do curto prazo, sem que o tema do desenvolvimento esteja na pauta", disse Pochmann. Segundo ele, os problemas que o governo está enfrentando na implementação do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) refletem a falta de profissionais "com visão de longo prazo". Atualmente, os cursos de mestrado e doutorado em Economia, com exceção da Unicamp e da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), são dominados por intelectuais ortodoxos - ou neoliberais, na linguagem que acabou popularizada.

Pochmann disse que está discutindo a idéia de um novo centro de pós-graduação com a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), instituição do governo federal que financia bolsas de pesquisa no País e no exterior. O objetivo é criar um centro de formação de pensadores desenvolvimentistas ao estilo do que foi no passado a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal). "Há um campo novo na economia que começa a despontar", comemorou o presidente do Conselho Federal de Economia (Cofecon), Synésio Batista da Costa.

No seminário de ontem, professores e economistas das áreas de Teoria de Desenvolvimento e História do Pensamento Econômico conheceram a experiência de ensino da UFRJ, que possui um forte núcleo de economistas heterodoxos ou desenvolvimentistas. A expressão "heterodoxo" serve para denominar economistas críticos das atuais políticas monetária e fiscal e defensores de uma intervenção mais firme do governo na determinação da taxa de câmbio e da taxa de juros.

"Temos de mudar o programa da Associação Nacional de Pós-Graduação (Anpec). O pensamento único é deles", disse o professor Franklin Serrano, referindo-se aos economistas ortodoxos. O representante da Cepal no Brasil, Ricardo Bielschowsky, admitiu que a instituição sofreu mudanças na década de 90, na onda do pensamento neoliberal, mas disse que hoje há uma busca de síntese entre o velho pensamento desenvolvimentista e o novo cenário internacional de inovações e abertura comercial. Essa ala "novo desenvolvimentista", da qual faz parte o ex-ministro tucano Bresser Pereira, também questiona a atual política monetária e cambial, mas é favorável a uma rígida disciplina fiscal.

sábado, 17 de novembro de 2007

Por que Chávez será problema para o Mercosul?

Correio Braziliense

14/11/2007

Por que Chávez será problema para o Mercosul?/Opinião
Carlos Pio, Professor de Economia Política Internacional da UnB

Depois da aprovação na Câmara dos Deputados, será a vez de o Senado Federal analisar o protocolo de adesão da Venezuela ao Mercosul. Apesar da retórica parlamentar e governamental que aponta aquele país como aliado estratégico do Brasil, argumentarei neste artigo que o melhor a fazer é dizer um sonoro "não" às pretensões de Chávez e Lula de transformarem o Mercosul numa arena política da qual proliferaria a retórica terceiro-mundista. Há excelentes razões de cunho econômico e político para justificar essa posição. Passemos a elas.

Primeiro, as econômicas. A liberalização do comércio é o princípio fundamental do regime multilateral construído no pós-guerra, que hoje se consolida pela ação dos países membros da OMC. Sendo assim, a formação de um bloco regional só é aceitável se promover a criação de comércio, ou seja, se os membros passarem a importar parte do que até então produziam internamente. Ou seja, a adesão a um bloco regional precisa significar queda das barreiras comerciais que o país impõe às exportações do resto do mundo — ou de parte dele. Integração regional, nesse sentido, seria um passo em direção ao livre comércio, ao capitalismo global. O Mercosul, apesar das mazelas, foi e continua sendo um compromisso nessa direção.

Ocorre que a Venezuela se autodeclara socialista, ou seja, defensora de modelo econômico no qual impera a vontade política dos governantes sobre a liberdade econômica dos cidadãos e empresas. Esse modelo não se ajusta ao estabelecido como princípio constitutivo do Mercosul, e a entrada da Venezuela no bloco representará séria ameaça à validade das garantias legais que amparam os contratos firmados entre empresas e cidadãos dos diferentes países. Na medida em que as regras do Mercosul ou a dinâmica dos fluxos comerciais intrabloco sejam alteradas depois da entrada da Venezuela, crescerão também as chances de sermos contestados, investigados e julgados formalmente na OMC pelo desrespeito às regras multilaterais.

Agora passemos às questões políticas. No sítio oficial do Mercosul (www.mercosul.org.uy), está dito que "os quatro Estados partes (Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai) compartilham uma comunhão de valores que encontra expressão nas sociedades democráticas, pluralistas, defensoras das liberdades fundamentais, dos direitos humanos, da proteção do meio ambiente e do desenvolvimento sustentável, incluindo o compromisso com a consolidação da democracia, a segurança jurídica, o combate à pobreza e o desenvolvimento econômico e social com eqüidade".

Se essa comunhão realmente existe, só mesmo com uma definição muito frouxa de democracia será possível aceitar a adesão venezuelana ao Mercosul. Afinal, nos últimos anos, Chávez tem: 1. restringido liberdades civis e políticas essenciais à democracia, entre as quais os direitos à vida, propriedade, participação e organização política, e pluralidade de fontes de informação; 2. alterado a Constituição para aumentar o tempo de mandato e eliminar restrições à reeleição; 3. criado, financiado, armado e mobilizado grupos de famintos militantes de sua "doutrina" bolivariana para confrontar a desorganizada oposição nas ruas das principais cidades; 4. interferido sobre o currículo escolar para que ele passe a professar sua ideologia autoritária; e 5. buscado alianças com líderes autoritários ou populistas de países que confrontam abertamente os princípios democráticos, como Cuba, Irã, Líbia, Rússia e Iraque (nos tempos de Saddam).

No contexto regional, Chávez fez questão de apoiar explicitamente candidatos identificados com suas idéias, suas políticas ou seu estilo de liderança, como nos casos de Evo Morales (Bolívia), Rafael Correa (Equador), Daniel Ortega (Nicarágua) — todos recentemente eleitos presidentes de seus países — e A. Manuel López-Obrador (México), candidato presidencial derrotado que contestou os resultados eleitorais em 2006. Isso para não falar no apoio dado por Chávez à campanha reeleitoral do presidente Lula. Além disso, financia a criação de grupos bolivarianos em vários países e também distribui favores às populações carentes em alguns países, inclusive no Brasil. Por fim, é importante lembrar as agressões verbais feitas pelo ditador venezuelano às Organizações Globo e ao Senado Federal, quando criticaram algumas de suas políticas ou declarações.

Diante de tudo isso, parece-me fundamental que o Senado dê um basta às pretensões imperialistas de Chávez e proclame de uma vez por todas que ele não é aliado estratégico do Brasil.

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

Subsídios Agrícolas

A questão dos subsídios agrícolas tem motivado muita gente a pensar -- erroneamente -- que a proteção comercial pode ser uma política estratégica a favor do crescimento rápido da economia. Afinal, se os ricos, que são ricos, protegem suas economias, quem somos nós para abrir a nossa?

Os dados sobre subsídios na agricultura entre membros da OCDE divulgados esta semana pelo Economist mostram que alguns países só têm agricultura porque seus governos pagam praticamente todos os custos de produção. É o caso da Islândia, da Noruega, da Suíça e da Coréia do Sul, países nos quais mais de 60% das receitas dos fazendeiros é na verdade transferência de renda pelo governo.

Interessante notar que, entre 1988 e 2006, os subsídios caíram em todos os países analisados, à exceção da Turquia. É também relevante indicar que tais subsídios são relativamente baixos nos EUA quando comparado com UE e Japão.

Por que tanta proteção justamente nos setores em que os países pobres e os em desenvolvimento são relativamente mais produtivos? Será que os governos dos países industrializados querem nos manter em eterno estado de dependência e endividamento?

O argumento é simples: (i) o subsídio agrícola no Norte é tão nocivo para o crescimento da renda dos países protecionistas quanto o subsídio à indústria manufatureira nos países do Sul -- perdem as famílias e empresas consumidoras potenciais de importados; e, (ii) a explicação para a opção pela proteção (vis-à-vis o livre comércio) é a mesma para países ricos ou não-ricos -- resulta da pressão política e de visões ideológicas anti-liberais que nada têm a ver com maquinações para abortar o crescimento do terceiro mundo.

terça-feira, 13 de novembro de 2007

Por que os países comercializam?

Intuitiva ou ideologicamente, quase todo mundo responde de maneira equivocada à questão proposta. Bastaria olhar de forma realista o que fazemos no cotidiano para saber que o comércio é atraente porque nos oferece a possibilidade de adquirir algo que nos custaria muito mais se produzíssemos diretamente.

No entanto, ao falar do país, incorremos numa falácia de composição: pensamos como se fôssemos membros de uma coletividade maior do que a soma de suas partes -- mais do que um mero resíduo, um agregado de indivíduos com interesses particulares e nem sempre compatíveis.

"O que interessa ao Brasil?", perguntamos. Lamento informar, mas o "Brasil" desta questão não existe: não existe uma estratégia comum que beneficie todos os brasileiros no curto prazo e nem na mesma proporção.

O resultado é que atribuímos ao país (interesse nacional) algo que só tem chances de ser realizado se o(s) interesse(s) de algum(ns) grupo(s) for(em) desconsiderado(s). Pior: que só pode ser realizado se restringirmos a liberdade dos perdedores para escapar à punição!!

A resposta certa é simples: não sendo nada além de um agregado de cidadãos, os países comercializam pela mesma razão que esses cidadãos comercializam -- para obter em troca aquilo que lhes custaria muito mais produzir diretamente.

Russell Roberts, economista da George Mason University, expõe de maneira simples e direta o argumento em prol do livre comércio no artigo Why We Trade, publicado recentemente na Foreign Policy.